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O APOIO ECONÔMICO E MILITAR DOS EUA E SEUS ALIADOS À UCRÂNIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

  • Foto do escritor: rafaelpupomaia
    rafaelpupomaia
  • 5 de dez. de 2022
  • 15 min de leitura

Atualizado: 24 de jan. de 2023

O apoio dos EUA e OTAN ao esforço de guerra ucraniano é extremamente importante de ser analisado. A Aliança militar ocidental, detentora de uma grande capacidade nuclear, está se envolvendo em um conflito cujo país com o maior arsenal nuclear do mundo está combatendo. É um cenário delicado e perigoso, onde é possível um movimento errado de ambos os lados escalar o conflito a um limite sem retorno.

Antes de entrar no contexto econômico, é necessário analisar um movimento importante. Após a desastrosa retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, em agosto de 2021, culminar na queda do país para o Taleban e mais uma derrota militar aos EUA, o Departamento de Defesa dos EUA começa a enviar contingentes militares à Europa. O objetivo dos EUA em aumentar sua presença militar na Europa para 100 mil soldados, algo que não ocorria desde 2005, mostra uma mudança na visão de Washington sobre a situação no continente e seu foco voltando-se a essa região.

Os EUA, o grande financiador do esforço de guerra ucraniano, gastou uma enorme quantia de dinheiro para comprar armas e equipamentos e entregá-las aos ucranianos, visando a continuidade de sua resistência frente aos russos. É importante entender como os EUA compram e entregam essas armas às Forças Armadas ucranianas, além de quem ganha e quem perde nesse contexto.

Em 26 de fevereiro de 2022, dois dias após a invasão russa, os EUA fizeram um comunicado por meio de seu Secretário de Estado, Antony Blinken. Nele, Blinken confirma que desde o outono de 2021 os EUA, sob ordens do presidente Biden, autorizaram o Departamento de Defesa a enviar US$ 60 milhões em assistência militar imediata à Ucrânia. Em dezembro de 2021, Blinken confirma outro envio de US$ 200 milhões em assistência militar a Ucrânia, mediante a movimentação das tropas russas na fronteira com o país. No dia 26 de fevereiro, o Secretário anunciou mais US$ 350 milhões em ajuda militar imediata a Ucrânia. Vale ressaltar que a ajuda militar norte-americana à Kiev ocorre desde 2014, ela apenas foi potencializada na administração de Joe Biden.

No início de março, o Congresso norte-americano aprovou um pacote de ajuda à Ucrânia no valor de US$ 13,6 bilhões (cerca de R$ 68 bilhões). O pacote estipula quatro grandes frentes de suporte dos EUA ao país europeu e seus valores, são eles: US$ 6,9 bilhões para ajuda internacional tradicional (refugiados, alimentos, propaganda, apoio bélico, etc.); US$ 3,5 bilhões em suprimentos militares; US$ 3 bilhões para operações e programas de inteligência dos EUA no país; US$ 175,5 milhões para aplicação das sanções e outros auxílios.

Dos valores citados, só a ajuda internacional tradicional de US$ 6,9 bilhões destinado a Ucrânia é o maior valor já entregue ao país. Além disso, só o auxílio mencionado é dez vezes maior do que o valor dado à Ucrânia no ano fiscal inteiro de 2020.

No dia 16 de março, o presidente Joe Biden anunciou um pacote adicional de US$ 800 milhões na assistência à segurança da Ucrânia. Neste novo pacote, os EUA se comprometiam a entregar: 800 sistemas antiaéreo Stinger; 2.000 Javelin; 1.000 armas leves anti-blindagem e 6.000 sistemas anti-blindagem AT-4; 100 Sistemas Aéreos Táticos Não Tripulados; 100 lançadores de granadas; 5.000 fuzis, 1.000 pistolas, 400 metralhadoras, e 400 espingardas; mais de 20 milhões de cartuchos de munição de armas pequenas, lançadores de granadas e morteiros; 25.000 conjuntos de coletes e 25.000 capacetes.

Em 02 de abril, o Pentágono anunciou que enviaria cerca de US$ 300 milhões em equipamentos militares para a Ucrânia via o programa Iniciativa de Assistência à Segurança da Ucrânia. Esta iniciativa “(...) permite que os Estados Unidos adquiram armas diretamente de fabricantes em vez de entregar armas de seus próprios estoques” (JEONG, 2022 – tradução do autor). O Pentágono sinalizou que comprometeu US$ 1,6 bilhão de seu orçamento com ajuda militar à Ucrânia desde o início da invasão.

Os EUA anunciaram um novo pacote de equipamentos militares à Kiev no dia 13 de abril. Este novo auxílio militar contou com: 18 sistemas de artilharia Howitzer (115 mm), 40 mil projéteis, 11 helicópteros de transporte MI-17, 200 veículos M113, 300 drones Switchblade, 500 mísseis antitanque Javelin e radares de contra-artilharia TPQ-36. O auxílio militar custou US$ 750 milhões aos cofres públicos norte-americano.

No dia 21 de abril, o presidente Biden anunciou outro pacote de auxílio para a Ucrânia. Este destina US$ 800 milhões a segurança militar e outros US$ 500 milhões a ajuda econômica ao país. Este novo pacote inclui diversas armas, entre eles: 72 obuses, 144.000 munições de artilharia, 72 veículos táticos e drones táticos Phoenix Ghost. É interessante notar que os drones Phoenix Ghost foram fabricados especificamente para guerra da Ucrânia, levando em consideração as demandas ucranianas para a guerra. Os drones são fabricados pela empresa Aevex Aerospace, na Califórnia. Este fato dá uma nova visão do investimento que o Estado norte-americano está aplicando na causa ucraniana, isto porque uma empresa dos EUA recebeu dinheiro público para fabricar uma arma exclusiva para as Forças Armadas ucranianas, visando suas necessidades específicas em campo de batalha.

Além deste novo pacote, Biden sinalizou que seu orçamento para o conflito ucraniano aprovado pelo Congresso no início de março foi quase totalmente utilizado. Tendo isso em vista, o presidente dos EUA enviou ao Congresso um pedido de orçamento suplementar para o conflito.

O presidente Biden anunciou em 28 de abril que requisitou ao Congresso novos fundos no valor de US$ 33 bilhões para auxiliar a Ucrânia. Grande parte deste novo auxílio é voltado a compra de equipamentos militares para os ucranianos. Não obstante, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou a “Ukraine Democracy Defense Lend-Lease Act”, uma lei paralela aos outros esforços de ajuda à Ucrânia, mas que facilita e destrava a venda e entrega de armas para Kiev. É interessante notar que esta lei revive o histórico programa Lend-Lease[1] dos EUA na Segunda Guerra Mundial. Este icônico programa custou US$ 50,1 bilhões na época (US$ 980 bilhões em 2022) aos EUA, mas previa que a dívida seria paga pelos beneficiados. No entanto, com alguns países, Washington aceitou a barganha de arrendar bases militares no exterior pelo valor da dívida.

Em meados de maio, o Senado dos EUA aprovou um novo pacote de auxílio à Ucrânia no valor de US$ 40 bilhões. Desse montante, cerca de US$ 20 bilhões estão provisionados para proporcionar à Kiev material bélico e treinamento às tropas. É importante perceber que não há mais uma unicidade política referente ao papel dos EUA no conflito. Ainda que o projeto tenha sido facilmente aprovado no Congresso, com apenas 57 congressistas republicanos vetando, já há indícios de divisão no partido. No Senado, o projeto passou por 86 votos a 11, todos os senadores contra o projeto também faziam parte do partido republicano. Percebe-se que há uma divisão dentro do próprio partido republicano sobre o interesse dos EUA na guerra.

Como já citado anteriormente, o governo Biden prosseguiu com seu contínuo gasto com o esforço de guerra ucraniano. Os EUA anunciaram um novo auxílio militar à Ucrânia em junho. Neste novo pacote de US$ 700 milhões, foram entregues os sistemas avançados de mísseis de médio alcance, o M142 HIMARS. Segundo Kiev, esse armamento seria um divisor de águas na luta contra os russos.

Em primeiro de agosto, o presidente Joe Biden autorizou a encomenda de mais de US$ 550 milhões de ajuda militar adicional a Kiev, aprovada pela “autoridade de retirada” do presidente. Em grande parte, esse pacote inclui rodadas adicionais de foguetes de artilharia (HIMARS) e projéteis de artilharia de 155 milímetros.

Os pacotes para auxílio da Ucrânia são constituídos de dinheiro público utilizado para compra de armas, suprimentos, propaganda, auxílio econômico, entre outras coisas aos ucranianos. O principal foco de ajuda dos EUA à Ucrânia foram equipamentos militares. Em um primeiro momento, parece uma causa nobre do establishment político do EUA, visto que os ucranianos estão enfrentando uma potência militar. No entanto, é preciso analisar outras questões.

O montante de dinheiro disponibilizado pela causa ucraniana é realmente muito alta, sem citar os “orçamentos fantasmas”, aqueles dos quais não são publicados para o público e se mantêm em sigilo. Para suprir logisticamente o esforço de guerra ucraniano, existe uma complexa engrenagem composta por políticos, empresas provadas, agências de inteligência e as próprias Forças Armadas. Washington compra equipamentos militares de empresas privadas, mesmas empresas que financiam as campanhas políticas de presidentes, congressistas e senadores[2]. Estas empresas recebem dinheiro público via demanda do Estado norte-americano e entregam os equipamentos militares ao governo dos EUA, não detendo dívidas com o país em conflito, uma vez que esses contratos são pagos diretamente por Washington. As Forças Armadas dos EUA se encarregam de enviar os equipamentos para Polônia, Romênia ou outro país aliado para que possam ser entregues aos ucranianos por meio de corredores de suprimentos que os russos inexplicavelmente não atacaram até a segunda fase da operação.

Desde o início da ofensiva russa contra a Ucrânia, o governo dos EUA gastou US$ 13,6 bilhões até maio. Em maio, o Congresso aprovou mais US$ 40 bilhões em novo pacote de auxílio a Kiev. Como se não fosse suficiente, o presidente Joe Biden autorizou mais 17 pacotes de auxílio complementar a Ucrânia sob sua “autoridade de retirada”, que somaram mais US$ 8 bilhões. Em apenas alguns meses de conflito, o governo dos EUA forneceu uma quantia exorbitante de equipamentos militares à Ucrânia, fora o orçamento fantasma.

Devido a enorme demanda ucraniana de armas e equipamentos militares, além dos contratos com empresas privadas do setor de segurança e defesa, os EUA utilizaram da“autoridade de retirada”, também conhecido como "saque presidencial". Isto é, uma parte considerável das armas enviadas à Ucrânia foram retiradas do inventário do Exército dos EUA para envio ao exterior. Em um primeiro momento, isto não é um problema. No entanto, o uso contínuo de armamentos e munições do inventário norte-americano, pode ser um problema caso a guerra se prolongue por muito tempo, até porque não é um estoque fácil de se reposto, devido a alta tecnologia empregadas em armas como: mísseis Javelin e Stinger, sistemas lançadores de foguetes HIMARS e sistemas aéreos não tripulados Switchblade.

No dia 24 de agosto, o presidente Joe Biden anunciou mais de US$ 3 bilhões de dólares em assistência à segurança, o maior pacote voltado a segurança desde o início da ofensiva russa. Esse pacote é direcionado a compra de armamento da indústria bélica dos EUA para serem enviados à Ucrânia. Segundo informações do Pentágono, o novo pacote contará com seis sistemas Nasams de mísseis terra-ar, 24 radares de contra-artilharia, drones Puma e sistema de contra-drones VAMPIRE.

Este movimento entre a administração Biden, as empresas privadas de defesa e a guerra na Ucrânia está ficando cada vez mais nítido. Em 30 de novembro, o Departamento de Defesa dos EUA anunciaram que concederam a empresa Raytheon um contrato de mais de US$ 1,2 bilhão para fornecer mísseis Nasams às Forças Armadas da Ucrânia. O Nasams é um sistema de defesa anti-aérea de mísseis terra-ar de médio alcance.

O problema desse gasto desenfreado com equipamentos militares são os efeitos econômicos a curto e longo prazo na economia norte-americana. Segundo dados do Banco Mundial, o PIB dos EUA em 2020 foi de US$ 20,95 trilhões. Enquanto isso, em dezembro de 2021, foi aprovado e sancionado pelo Congresso dos EUA um aumento no limite da dívida do governo federal para US$ 31,4 trilhões, evitando um calote inédito do país. Atualmente, o nível de endividamento dos EUA é o mais elevado desde a Segunda Guerra Mundial.

No dia primeiro de fevereiro de 2022, o Departamento do Tesouro dos EUA afirmou que a dívida nacional ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 30 trilhões. Com a invasão russa da Ucrânia e a compulsiva compra de armas e suprimentos para a Ucrânia, observa-se o gradativo aumento desse déficit. Uma curiosidade é que o mainstream econômico - liderado pelos EUA e seus parceiros - aponta como um erro abominável para os países em desenvolvimento ultrapassarem seu teto de dívida, mas dificilmente isso ocorre em sua política interna. Muitos poucos veículos de mídia criticaram esse gasto excessivo com armas para a Ucrânia.

O dinheiro dos contribuintes que poderia ser utilizado internamente para investimentos visando emprego, desenvolvimento e renda dos estadunidenses, está sendo usado para uma guerra em que os EUA não está ativamente combatendo. O país mal saiu da crise econômica causada pelo COVID-19 e já está entrando em outra. A curto-prazo, o endividamento excessivo e os impactos das sanções impostas à Rússia, geraram diversos problemas econômicos, inclusive uma forte pressão inflacionária, tendo a inflação nos EUA atingido seu nível mais alto em 40 anos em março de 2022. Consequentemente, Biden se tornou um dos presidentes mais impopulares da história dos EUA, com pesquisas indicando 33% de aprovação de seu governo.

Na esteira dos acontecimentos, a gasolina atingiu o preço histórico de US$ 5,00 por galão em junho. Não obstante, Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, afirmou que os EUA estão enfrentando um “furacão econômico”, mas que ainda é cedo para avaliar o grau de destruição que ele terá. Com o intuito de tentar controlar a inflação, o FED anunciou em 15 de junho o maior aumento da taxa de juros desde 1994. O aumento da taxa de juros mostra o compromisso do BC em combater a inflação, ao mesmo tempo que contrai o crescimento da economia, diminuindo os estímulos e o crédito. Tais fatos, mostram que os problemas econômicos nos EUA já estão aparecendo.

Outros países também auxiliaram o esforço de guerra ucraniano, enviando equipamentos militares, ajuda econômica para infraestrutura das cidades ucranianas, ambulâncias, equipamentos médicos e auxílio aos refugiados do conflito. Países como: Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, Romênia, Polônia, Bélgica, Holanda, Portugal, República Tcheca, Austrália, dentre outros. Os participantes da OTAN auxiliaram e continuam auxiliando o esforço de guerra ucraniano.

No dia 20 de abril, Annalena Baerbock, Ministra das Relações Exteriores da Alemanha afirmou que Berlim forneceu mais equipamentos militares a Kiev do que havia sido noticiado na mídia, mostrando que o governo alemão cedeu à pressão dos EUA e Ucrânia para fornecer mais armas. Cinco dias após a declaração oficial alemã, o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki confirmou o envio de tanques e equipamentos pesados às Forças Armadas ucranianas. Autoridades polonesas confirmaram o envio de mais de 200 tanques T-72 aos ucranianos, somados a diversos veículos blindados. Não obstante, em visita a Kiev, o então premiê britânico Boris Johnson afirmou que enviaria 120 veículos blindados ao Exército ucraniano. Além disso, o Reino Unido aprovou um auxílio militar adicional a Ucrânia no valor de US$ 130 milhões.

O atual primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Rishi Sunak, afirmou que o país gastou mais de US$ 3 bilhões durante o ano em ajuda militar à Kiev. O premiê afirmou que o auxílio militar para Ucrânia continuará, anunciando um pacote de ajuda militar ao país que consiste, principalmente, em equipamento para defesa anti-aérea. Segundo a autoridade, esta ajuda militar tende a aumentar em 2023.

Vale ressaltar que no início de abril, o The Washington Post informou que a Rússia havia notificado os EUA e seus parceiros sobre o fornecimento contínuo de equipamentos militares a Ucrânia. Em um documento intitulado “Sobre as preocupações da Rússia no contexto do fornecimento maciço de armas e equipamentos militares ao regime de Kiev”, Moscou expressa sua preocupação com a escalada do conflito devido a “militarização irresponsável da Ucrânia”. Maria Zakharova, representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, confirmou o envio do documento.

Outro ponto importante pouco abordado pela mídia ocidental é sobre a rastreabilidade das enormes quantidades de armas que estão sendo entregues para os ucranianos. Como os EUA não possuem uma rastreabilidade das armas que estão sendo enviadas, Washington fica à mercê da palavra das autoridades ucranianas sobre o paradeiro desse equipamento. O que se mostra extremamente perigoso, já que a Ucrânia possui um enorme mercado paralelo na venda de armas, já visto após a queda da URSS. A principal preocupação que deveria estar sendo discutida pelos políticos norte-americanos é o fato dessas armas serem vendidas a grupos terroristas ou milícias armadas inimigos dos EUA.

Tal ajuda militar incessante dos EUA e seus parceiros vão de encontro com os planos de Putin. Em consonância com as expectativas do Kremlin, os sinais começam a aparecer no cenário econômico desfavorável para os EUA. Segundo o Bureau of Labor Statistics, em junho a inflação acumulada no ano nos EUA chegou a 9,1%, maior alta registrada desde 1981. A fim de tentar combater esse cenário, o Federal Reserve (Fed) anunciou mais uma elevação na taxa de juros no país em 75 pontos. Este aumento, somado as elevações nos meses anteriores, catapultaram a taxa de juros dos EUA de quase zero para cerca de 2,50%. Mesmo o Fed rejeitando a ideia de uma recessão, há um enfraquecimento nos dados econômicos do país. Além disso, o aumento da taxa de juros terá um efeito maior na desaceleração da economia real.

Outros indicadores mostram a desaceleração da economia norte-americana. Segundo relatório divulgado pelo Departamento de Comércio dos EUA, no segundo trimestre do ano, o investimento residencial despencou 14%, maior queda em 12 anos. Os gastos do consumidor também diminuíram para um crescimento anualizado de 1%. A desaceleração dos gastos do consumidor impactou diversos segmentos, inclusive o de alimentos, que registrou uma desaceleração no consumo de US$ 33,5 bilhões. A prévia da instituição é que o PIB do país contraia novamente no segundo trimestre, entrando tecnicamente em recessão.

As estimativas apresentadas indicam que o PIB dos EUA no segundo trimestre de 2022 tenha recuado 0,9%. Somada ao resultado negativo no primeiro trimestre, a maior economia do mundo recuou 1,6% no resultado anual. É possível creditar a esses resultados negativos ao aumento do gasto do governo com a guerra na Ucrânia e outras decisões equivocadas, levando a um aumento vertiginosos da dívida pública do país[3], o aumento da inflação, a elevação da taxa de juros e a desaceleração econômica.

A negação do Fed e de políticos norte-americanos de uma possível recessão nos EUA está intrinsecamente ligada as eleições legislativas que ocorreram em novembro no país. Mesmo com um aumento de 2,9% no PIB dos EUA no terceiro trimestre de 2022, há a probabilidade de problemas econômicos e financeiros no país se intensificarem. Segundo os dados oficiais, os aumentos nas exportações e gastos do consumidor suprimiram a diminuição dos investimentos no período indicado. É possível a discussão sobre a sustentabilidade desse crescimento econômico. Não obstante, o Fed elevou novamente as taxas de juros em 75 pontos-base em novembro, tornando-se o mais rápido aperto de juros na política monetária do país em 40 anos. A briga do Fed contra a inflação continua feroz, em outubro o US Bureau of Labor Statistics indicou que a inflação do país em outubro aumentou 0,4% e 7,7% em comparação ao mesmo mês em 2021.

De acordo com o documento publicado em novembro pelo Departamento de Estado dos EUA, denominado U.S. Security Cooperation with Ukraine, os EUA reforçam o apoio militar e político à Ucrânia e detalham a lista de armamentos produzidos e enviados a Kiev. A lista inclui os US$ 19,7 bilhões enviados no "auxílio à segurança" da Ucrânia desde de janeiro de 2021, além dos US$ 11,7 bilhões do "saque presidencial", ou seja, armamentos que foram retirados diretamente do estoque das Forças Armadas dos EUA.

Portanto, observa-se um cenário sem perspectivas definidas a curto prazo e sombrio no longo prazo. Os EUA estão agindo como se estivessem em guerra, mas na verdade não estão. Talvez, quando a verdadeira guerra chegar ao país, eles não tenham tantas condições de suportá-la devido a essa queima irresponsável de recursos, equipamentos e suprimentos. Este fato, somado as sanções impostas impactam profundamente a economia dos EUA, já muito afetada pela pandemia do COVID-19 (é necessário lembrar que os planos trilionários ainda estão gerando impacto positivos na economia). Dada essa conjuntura, esse gasto irresponsável tende a afetar muito mais os EUA no longo prazo, tanto no enfraquecimento econômico como no militar.

[1] Instituído por Franklin D. Roosevelt em 1941 e finalizado em 1945, o programa visava a produção de armas e equipamentos militares para os países Aliados enfrentarem o Eixo. (RT, 2022l) [2] Coincidência ou não, nos anos de 2020 e 2021 percebe-se um aumento da contribuição do setor de defesa no lobby político nos EUA (OPEN SECRETS, 2022). [3] Atualmente, a dívida pública dos EUA é de US$ 30,6 trilhões, o que corresponde a 124% do PIB do país (TSEGOEV; CHEMODANOVA, 2022).


Referências:

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